Por David Alves Gomes
Nas
últimas eleições votei nulo. Votei nulo porque considerava (e ainda considero)
que nenhum partido representava as minhas aspirações políticas. Não concordo
com as políticas petistas adotadas frente às chamadas “minorias” (como os LGBTs,
mulheres, negros/as e indígenas). O PT simplesmente se cala frente ao genocídio
do povo negro perpetrado pelas Polícias, não avança nos direitos das mulheres
(como a discussão sobre a legalização do aborto) e dos LGBTs, além de estar ao
lado do agronegócio na dizimação de povos indígenas e com um projeto
desenvolvimentista. Por todos esses motivos, e mais tantos outros de ordem político-econômica, votei nulo
na eleição passada. Assim, entendo perfeitamente quando alguém, alegando o que
foi listado acima, diz que irá votar nulo nestas eleições. Mas por que votarei
em Dilma agora?
Com certeza o ser humano é um ser
contraditório, pois eu teria todos os motivos para não votar no PT, mas ainda
assim votarei. Vamos lá: apesar de o PT não atender a demandas tão urgentes e
tão caras, acredito que seja muito pior se Aécio ou Marina sejam eleitos. O
governo do PSDB já sabemos como é: privatizações, arrocho salarial, alta taxa
de desemprego, quase inexistência de concursos públicos etc. O salário-mínimo
com o PT ainda não é o suficiente para a subsistência da população, aliás, ele
é baixíssimo. Entretanto, o seu valor tem aumentado bem mais frente à política
adotada pelos tucanos: o Armínio Fraga, cotado para ser o Ministro da Fazenda de
Aécio Neves, caso este seja eleito, informou que o salário-mínimo cresceu demais:
só se for o “salário-mínimo” dele. Marina Silva afirma possuir uma “nova
política”, mas será que ela é tão nova mesmo? Vamos listar alguns fatos: Recuo
no programa em relação às demandas LGBTs (por “ordem” do Pastor homofóbico
Silas Malafaia, que a apoia, assim como o racista e homofóbico Marco Feliciano);
o Márcio França, coordenador financeiro da campanha de Marina Silva, é o vice
na chapa da candidatura do tucano da Opus Dei Geraldo Alckmin; a banqueira Neca
Setúbal, do Itaú, é outra que manda em Marina que tornará, caso eleita, o Banco
Central independente, ou seja, a política financeira do país estará sob
controle de bancos privados (como o Itaú), aumentando-se as taxas de juros,
reduzindo, ainda mais, o poder de compra do brasileiro. Essa política
neoliberal é a mesma adotada pelo PSDB, e, talvez por isso, é que o ex-presidente
FHC disse que Marina e Aécio devem se unir, deve ser por isso que Marina
autorizou campanha conjunta com Alckmin em São Paulo, talvez por isso que
existem tucanos na campanha de Marina. Marina diz que irá governar com os “melhores”,
mas pelo visto, ou ela esquece, ou o seu cinismo é muito grande (acredito que
seja isso), que não existe imparcialidade em qualquer lugar, muito menos na
política: os supostos “melhores” que ela escolhe possuem uma determinada visão
política que irá atender a certas demandas.
Administrar um país é fazer escolhas
e, em um país de grande desigualdade social como o Brasil, a sua escolha irá
atender a demandas da elite ou da população pobre. Por isso que votei nulo na
eleição passada, por entender que o PT não governa a favor da população pobre.
Contudo, existem algumas diferenças em relação ao neoliberalismo de Aécio ou de
Marina: O PT, com todas as deficiências e prejuízos que trouxe com o REUNI,
ampliou a educação superior no Brasil, implantou as cotas raciais nas
universidades (que não podem ser entendidas, claro, como único meio para
erradicação da desigualdade racial no ensino superior); além disso, o Bolsa
Família tira milhares de famílias da extrema pobreza (lembro a todos que o
valor máximo por família é de R$ 153,00)
e também obriga, para a família receber o benefício, às crianças frequentarem a
escola. Claro que podem dizer que o Ensino Básico não é satisfatório, e
concordo. Mas aí já é outra luta.
Não acredito sinceramente que o
próximo governo da presidenta Dilma irá atender às minhas aspirações, aliás,
tenho certeza que não. Mas por que pareço um louco contraditório, e, ainda
assim, votarei na Dilma? Entendo que o Brasil é um país de imensa desigualdade
social, e as políticas adotadas pelo PT reduziram-na um pouco. Entendo também
que é necessário uma alternativa política, não podemos ficar reféns do PT eternamente,
com o plausível receio de que vozes ainda mais conservadoras, como as
representadas por Aécio e Marina, tomem o poder. Entendo que as eleições no
Brasil são uma farsa, pois nunca candidaturas como a de Luciana Genro do PSOL
ou de José Maria do PSTU, com os seus discursos atuais e com a legislação
eleitoral a que estamos submetidos, vencerão uma eleição. A luta contra o
financiamento privado de campanhas que, até o presente momento, o PT está
apoiando, é algo necessário. Mas não somente disso necessitamos. Precisamos de
muito mais, e tenho certeza que o PT não nos trará esse “mais”. Contudo, não
desejo que outros partidos, como o PSDB de Aécio e o PSB de Marina, além de não
nos trazer “mais”, nos traga “menos”. É uma postura contraditória sim, mas a
minha grande contradição se resolve quando penso que uma política petista
desenvolvimentista, assistencialista, a favor da elites brancas, com posições questionáveis
quanto às demandas das minorias e cooptação dos movimentos sociais, mas que
reduza, ainda que infimamente, as desigualdades sociais, pode ser melhor do que
uma política neoliberal e que, provavelmente, aumentará essas desigualdades
sociais e, declaradamente está contra as demandas das minorias.
Entendo que a população ainda não está preparada para uma revolução. Aliás, o que mais percebo atualmente são jovens que, lamentavelmente, apoiam a ditadura militar, jovens cada vez mais reacionários, jovens que se enquadram em um novo jargão: a “direita mortadela” ( em oposição ao “esquerda caviar”). Jovens que não usufruem do modelo político neoliberal, mas que o apoiam (deveriam entender o conceito de hegemonia de Gramsci). Jovens que são contra a distribuição de renda a populações abaixo da linha da pobreza. Jovens que são contra a eleição de um ex-operário não escolarizado formalmente ou de uma ex-guerrilheira da época ditadura, a que chamam de “terrorista”. Jovens que, absurdamente e de forma tresloucada, chamam o governo do PT de socialista. Esses jovens, definitivamente, não possuem condições para liderarem uma revolução socialista (o que desejo), repensando, contudo, o conceito de socialismo: compreendendo que todas as diferenças, materiais ou simbólicas, não podem estar resumidas a apenas a diferença de classe social, apesar de estarem, em maior ou menor escala, intimamente ligadas. Então, a contradição de um socialista libertário se resume em uma única frase: nós, infelizmente, ainda não estamos preparados para um governo que não seja como o do PT.
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